O município de Cândido Godói, no Rio Grande do Sul, apresenta um índice de gêmeos claramente acima da média nacional.

Depois que foi levantada a hipótese – plausível – de que o médico nazista Josef Mengele teria passado pela região, na década de 1950, começaram a ser difundidos boatos de que o “excesso” de gêmeos derivava da concretização, em solo brasileiro, das diabólicas experiências que ele havia feito nos campos de extermínio nazistas. Várias pesquisas científicas foram realizadas para testar essa explicação, mas todas resultaram negativas. No mês de março de 2011, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, liderados pelas cientistas Úrsula Matte, Patrícia Prola e Lavínia Schüler Faccini apresentaram o resultado de uma nova pesquisa. Como essa profunda investigação pretende ter dado um veredicto final sobre o tema, os pesquisadores fizeram questão de comunicar o resultado à comunidade, em reunião pública, no município, no intuito solidário de deixar claro que os habitantes não são filhos de Belzebu. Uma constelação genética, sem interferência humana, é a responsável pelo fenômeno. Mas, com absoluta certeza, este não será o ponto final do caso. As responsáveis pela pesquisa – ainda mais com os sobrenomes que possuem – correm o seriíssimo risco de receber a mesma qualificação que recebeu o locutor que vos fala: “hiperbestas reacionárias neonazistas”. Não há qualquer dúvida de que, mais dia menos dia, aparecerá alguém a acusá-las de tentarem minimizar e acobertar, com suas explicações “pseudo-científicas”, as terríveis maquinações nazistas e “neonazistas” que devem estar em andamento em Cândido Godói, numa trama para conquistar o planeta. Essa luminária máxima da historiografia gaúcha que é Jair Krischke pode, muito bem, estar de posse de um relatório norte-americano – depois de WikiLeaks, sabemos que pode ter ele próprio como fonte original – no qual as autoridades estrangeiras talvez digam que a ciência tupiniquim não é confiável, e que os gêmeos são, sim, produto do médico nazista. Também não tardará a ser exibido o filme que mostrará que a referida população é, de fato, constituída de satanases gerados pelo monstro Mengele. E fará o maior sucesso – já que seguir a explicação das cientistas cansa as mentes limitadas de oligofrênicos e de caçadores desvairados de “neonazistas”. A insensatez humana simplesmente não tem limites! [21/4/2011]